O Diretório Nacional do PT aprovou nesta segunda-feira (17) uma mudança no estatuto que abre as portas para a perpetuação no poder de seus dirigentes e parlamentares.
Com a decisão, cai a limitação de três mandatos consecutivos para presidentes de diretórios, permitindo que as velhas figuras do partido sigam reinando sem qualquer perspectiva de renovação.
A medida é vista como um golpe contra qualquer tentativa de oxigenação dentro da legenda, o que já provoca reações internas.
O vereador de Manaus, José Ricardo, crítico da decisão, não economizou palavras: para ele, a mudança “aproxima o partido de práticas da direita, onde você tem alguém que sempre é dono do partido e fica perpétuo”.
Traduzindo: o PT, que tanto se vende como progressista, agora institucionaliza a mesmíssima lógica de coronelismo partidário que sempre criticou.
O impacto da decisão já tem nome e sobrenome no Amazonas: Sinésio Campos. Atual presidente estadual do PT, Sinésio se torna um dos maiores beneficiados pela nova regra, abrindo caminho para mais uma reeleição e consolidando sua posição dentro do partido.
Para quem acompanha a política local, não é surpresa: há anos o PT amazonense é palco de disputas internas que mais parecem uma guerra de feudos, com lideranças brigando entre si para manter territórios de influência.
José Ricardo, que já anunciou sua pré-candidatura à presidência estadual do partido, vê na decisão um entrave para que novas lideranças tenham espaço.
Ele defende que o PT deveria dar voz à juventude e a novas ideias, em vez de garantir mandatos vitalícios a quem já domina a máquina partidária. Seu grupo, a Resistência Socialista, foi contrário à proposta, mas, como se vê, a defesa da renovação sucumbiu à conveniência dos caciques.
A situação se torna ainda mais tensa pelo histórico de divergências dentro do partido no Amazonas.
Enquanto José Ricardo prega um PT mais voltado às pautas populares e progressistas, a realidade interna revela figuras alinhadas com interesses de mineradoras, desmatadores e setores pouco comprometidos com a agenda ambiental e indígena — o que levanta a pergunta: o PT, no estado, ainda representa a esquerda ou virou apenas um clube de poder?
A disputa pela presidência estadual do partido, marcada para 6 de julho, promete ser quente. Além de José Ricardo, Valdemir Santana também deve entrar na briga.
Já Sinésio Campos, até o momento, mantém o silêncio, mas o jogo está claro: com a nova regra, ele se fortalece e empurra o partido ainda mais para a lógica da velha política.
Resta saber se a base petista aceitará essa guinada sem contestação ou se haverá resistência à transformação do partido em uma máquina de reeleição infinita. O tempo dirá.