Defesa de Bolsonaro pede anulação da delação de Mauro Cid ao STF

"Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar pq nao era aquilo que tinha dito", disse Cid a amigo e advogado

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro pediu nesta segunda-feira (16) ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a anulação do acordo de delação premiada do ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid.De acordo com os advogados, Cid mentiu durante interrogatório realizado na semana passada e descumpriu as cláusulas de sigilo do acordo, assinado com a Polícia Federal (PF) nas investigações. 

"O delator mentiu de novo, e tem mentido para acobertar suas sucessivas mentiras e que alcançam também os depoimentos prestados. Os fatos trazidos a público após os interrogatórios são graves, para dizer o mínimo e muito pouco", afirmou o advogado de defesa Eduardo Kuntz.

O pedido da defesa de Bolsonaro foi feito após revista Veja publicar que Cid mentiu no depoimento e teria dito que nunca falou em golpe durante o seu depoimento a Polícia Federal.

Nas mensagens, entre outros assuntos, Cid afirma a Kuntz que o delegado Fabio Shor, responsável pelo inquérito, colocou palavras em sua boca durante os depoimentos da delação e que em nenhum momento mencionou a palavra golpe aos investigadores.

"Várias vezes eles queriam colocar palavras na minha boca… E eu pedia para trocar", disse Cid ao amigo e advogado. "Eles toda hora queriam jogar para o lado do golpe. E eu falava para trocar pq nao era aquilo que tinha dito", mostram as mensagens.

As conversas foram incluídas no processo para embasar pedido da defesa de Câmara de anulação da delação premiada de Mauro Cid com a Polícia Federal "por absoluta falta de voluntariedade". A reportagem da revista também fundamenta pedidos feitos pelos advogados de Jair Bolsonaro e Braga Netto.

Durante a oitiva, Mauro Cid foi perguntado pela defesa de Bolsonaro se tinha conhecimento sobre os perfis @gabrielar702 e Gabriela R, no Instagram, que são identificados com mesmo nome da esposa do militar, Gabriela Cid. Ele respondeu que não sabia se o perfil era de sua esposa e afirmou que não usou redes sociais para se comunicar com outros investigados.

Os advogados do ex-presidente levantaram a suspeita de que Cid usou o perfil para vazar informações de seus depoimentos da delação.

Pelas cláusulas do acordo, os depoimentos são sigilosos, e o descumprimento pode levar a penalidades, como a anulação dos benefícios, entre eles, a possiblidade de responder ao processo em liberdade.

"O malfadado acordo de colaboração premiada firmado com o TC CID não pode e nem deve prosperar e, assim sendo, toda a sua prova dele derivada também deve ser imediatamente desconsiderada", sustenta Kuntz.

Defesa

Após a divulgação da reportagem, a defesa de Mauro Cid disse que a reportagem da revista Veja é "mentirosa". Os advogados também pediram a investigação sobre a titularidade dos perfis. 

"Esse perfil não é e nunca foi utilizado por Mauro Cid, pois, ainda que seja coincidente com nome de sua esposa (Gabriela), com ela não guarda qualquer relação", afirmou a defesa.